O Brasil se insere no mundo contemporâneo como um país composto
por uma sociedade majoritariamente adepta do cristianismo. Portanto, uma
sociedade que preconiza os preceitos defendidos por Jesus, o Nazareno
Galileu.
Observando o contexto atual no qual nos encontramos, notadamente
no Brasil, quanto aos valores humanos e ainda mais, os espirituais-cristãos,
confesso que me vi acometido de certo espanto, talvez até medo...
Digo isso por observar a distância que se vê entre os valores
propostos por Jesus em seu Evangelho (Boa Nova) e aqueles que se têm propagados
nesse período eleitoral sob o tecido do seu pseudo público seguidor.
Refletindo a respeito desse aparente contraste, me ocorreu fazer
uma breve viagem na História da Humanidade Cristã.
Primeiramente lembrei-me da ação de Constantino, no ano 313 d.C.
imperador romano que, para garantir uma maior sobrevida do seu império, emitiu o
Édito de Milão para instituir a tolerância religiosa dentro do império, ação
que finalmente pôs fim às perseguições sofridas pelos adeptos do Cristianismo.
Essa jogada política ocorreu em Niceia.
Nesse contexto, porém, Constantino não
descuidou de fazer exigências a seu favor e desde então passou a interferir
assiduamente nas decisões do clero de então. Essa decisão do imperador fez
aumentar sobremaneira a mistura de crenças antigas com aquelas dos cristãos
primitivos. Algo que ainda hoje persiste.
Em 27 de fevereiro de 380, agora em Constantinopla, foi a vez do
imperador bizantino Teodósio 1º (347-395) promulgar um decreto declarando o
cristianismo religião oficial do Estado Romano e punindo o exercício de cultos
pagãos. Mais uma canetada com o mesmo fim político: esticar a existência do
maior império que a humanidade conheceu.
Assim os ensinos do Cristo foram sendo “inchertados” com outros
tantos afim de serem amoldados aos interesses políticos e temporais,
distanciando-se cada vez mais daquilo que realmente o taumaturgo da Galileia
nos deixou como ensinamentos.
Dando sequência a tais distorções, vamos experimentar durante os
1000 anos de escuridão da Idade Média as Jihad’s cristãs contra o infiel
muçulmano por meio das 8 Cruzadas, que matava, estuprava, roubava e perseguia
em nome do Cristo, inclusive tendo uma, em 1212, infantil (embora existam
controvérsias). Atitudes diametralmente opos-tas aos preceitos de AMOR ao
próximo regis-trados por todos os autores dos evangelhos, inclusive os
apócrifos.
Mas não paramos por aí, quanto às distorções dos ensinamentos de
Jesus, o Cristo. Vieram também as vendas de indulgências que tanto corromperam
os ensinos do nazareno, ao ponto de membros da própria igreja romana passarem a
criticar duramente tal prática, culminando na publicação em 31 de Outubro de
1517, por Martinho Lutero afixando na porta da capela de Wittemberg suas 95
teses que resultaram no surgimento do protestantismo, era a Reforma
Protestante. Tal gesto do teólogo alemão, foi respondido com mais força e
perseguição às suas “ideias heréticas” e punidas, inclusive com processos
inquisitoriais finalizados com a condenação à morte, na forca, na fogueira... O
amor, mais uma vez era deixado de lado.
Durante o Mercantilismo (do século XIV ao XVIII), as nações
cristãs foram exatamente aquelas que invadiram o continente africano e
escravizaram seres humanos, tratando-os como não-humanos. Quanto aos indígenas,
especialmente os da América Portuguesa, lançou-se sobre eles a famigerada
“guerra justa”...
Avançando nos séculos, chegamos ao ano de 1929.
Desde 1922 sob o governo fascista de Benito Mussolini O Estado
da Cidade do Vaticano nasceu a 11 de Fevereiro de 1929 (ratificação a 7 de
Junho desse ano), na sequência dos Acordos (Tratado de) Latrão, assinados entre
a Santa Sé e o Reino de Itália, no caso entre o Papa Pio XI e Benito Mussolini,
chefe do Governo fascista italiano. A ascensão de Hitler ao poder teve, no
campo diplomático, o auxílio do papado...
Durante os Regimes Ditatoriais da América Latina, notadamente no
Brasil, Argentina e Chile, predominou o silêncio das mais diversas correntes do
cristianismo com bem poucas exceções.
São páginas terríveis da história do cristianismo. Páginas que
demonstram, sem equívoco, como a verdadeira mensagem do Cristo vem sendo
negligenciada, alterada e vilipendiada por tantos que se dizem seguidores seus.
Por fim, deixo-vos o pensamento de um dos
grandes mestres da teologia e também filósofo, HUBERTO ROHDEN que nos esclarece
a respeito do Cristo e do Cristianismo em seu opúsculo QUE VOS PARECE DO CRISTO:
A verdadeira mensagem do Cristo é
perfeitamente compatível com a mais alta evolução cultural da humanidade – mas
não com as nossas teologias cristãs.
Ainda o mesmo autor nos informa:
Mahatma Gandhi respondia a todos os missionários cristãos que o queriam converter:
“Aceito o Cristo e seu Evangelho, não aceito o vosso cristianismo”.
Albert Schweitzer, teólogo cristão e filho de um ministro evangélico,
escreveu:
“Nós injetamos nos homens o soro da nossa teologia, e quem é vacinado
com o nosso cristianismo está imunizado contra o espírito do Cristo.
Abraham Lincoln, um dos maiores presidentes dos Estados Unidos, nunca se
filiou a nenhuma das muitas igrejas cristãs que há nesse país, porque estava à espera
da igreja do Cristo.
Por que esta discrepância entre Cristo e cristianismo, da parte de
pessoas espirituais e sinceras?
Porque é impossível identificar o Cristo com alguma organização
religiosa; qualquer tentativa destas é necessariamente uma deturpação e uma
falência.
E finalmente nos vemos obrigados, diante do
que assistimos, a também concordar com ele ao registrar na mesma publicação: Damos
plena razão a Nietzsche que, no princípio deste século, escreveu: “Se o Cristo
voltasse ao mundo em nossos dias, a primeira declaração que faria ao mundo
cristão seria esta: Povos
cristãos, sabei que eu não sou cristão”.